segunda-feira, 13 de junho de 2011

Resultado da "Peneira"


                 Prezados alunos, queremos expressar nossa imensa satisfação com a participação de vocês no processo seletivo do conteúdo futebol, que foi exposto nas últimas aulas. Enquanto processo avaliativo do plano de ensino da disciplina percebemos a elaboração de uma nova concepção do futebol por vocês.
                O objetivo das aulas em que ocorreram a “peneira” foi o de se aproximar com o filme trabalhado “Linha de Passe” e vivenciar como pode ser frustrante e desleal um processo de seleção de talentos para o esporte de alto rendimento.
                Parabenizamos todos os alunos pela disposição e lealdade com os jogadores, tanto companheiros quanto adversários, coletividade, solidariedade e de não sobrepujarem os envolvidos na “peneira”.
                 O conteúdo Futebol se encerra com o objetivo proposto alcançado, ou seja, nossos alunos criaram uma nova síntese sobre o tema trabalhado nas aulas. Isto porque é notório o comportamento e a reflexão que os mesmos fazem tanto nas aulas teóricas como nas aulas práticas.
                 Portanto, não seria justo selecionarmos apenas vinte alunos (dez meninos e dez meninas) dentre tantos outros, que assim como estes, tiveram um grande desenvolvimento de suas habilidades e também da sua compreensão sobre o futebol e tudo aquilo que o cerca.
Obrigado. 

Após o encerramento do conteúdo futebol, qual a opinião de vocês sobre o esporte, suas dimensões e o processo de seleção ocorrido na aula?

terça-feira, 26 de abril de 2011

Futebol feminino no Brasil de hoje: só o talento não basta

Texto adaptado dos artigos “FPF institui jogadora-objeto no Paulista” publicado pela Folha de São Paulo em 16/09/2001, e, “Paulista feminino acha o ‘futebol bonito’ em peneira” publicado pela Folha de São Paulo em 21/09/2001.

“No lugar dos cabelos ralos, longos rabos-de-cavalo. Dos calções masculinos, shorts minúsculos. Da cara limpa, a maquiagem. No campeonato feminino de 2001 da Federação Paulista de Futebol, a beleza foi vista como requisito fundamental na seleção das atletas.

No projeto, elaborado em conjunto com a Pelé Sports & Marketing, o embelezamento das atletas foi um dos objetivos principais para o sucesso do torneio. “Desenvolver ações que enalteçam a beleza e a sensualidade da jogadora para atrair o público masculino”, diz um dos pontos.
Em seu discurso no lançamento da competição, o presidente da FPF, admitiu a necessidade na mudança do atual perfil das atletas da modalidade no Brasil. “Temos que mostrar uma nova roupagem no futebol feminino, que está reprimido por causa do machismo. Temos que tentar unir a imagem do futebol à feminilidade”, disse o dirigente. E completou ainda, “vamos ter um campeonato tecnicamente bom e bonito”.

Conforme as regras do Paulista, a meia Sissi, principal jogadora da história do futebol feminino brasileiro, não teria vez no torneio. Sissi, que na ocasião defendia a equipe campeã da primeira edição da WUSA (Liga norte-americana de futebol), tem os cabelos raspados.

“Aqui, com cabelos raspados não joga. Está no regulamento”, disse o vice-presidente da FPF, responsável pela organização do torneio paulista. O dirigente, entretanto, nega que a questão estética prevalecerá sobre o aspecto técnico no processo de seleção das atletas. “Se tivermos de escolher uma menina feia que jogue bem ou uma bonita que jogue mais ou menos, escolheremos a feia. Pode ter certeza”, declarou.

Entre as atletas o discurso dos dirigentes provocou polêmica. Algumas acreditavam que a estratégia poderia facilitar o desenvolvimento do futebol feminino, como uma atleta do Juventus que declarou “agora a mídia vai querer comprar o futebol feminino. A TV vai mostrar que há mulheres jogando”, ou outra atleta da mesma equipe que disse “a imagem das velhas jogadoras trouxe preconceito à modalidade. Agora a mulher poderá provar que não precisa ser masculina para jogar”.

Por outro lado, a estratégia da FPF também provocou descontentamento, como apontam algumas meninas que participaram da “peneira” da Federação Paulista de Futebol para seleção de atletas. Uma das aprovadas no teste declarou “acho que a beleza me ajudou sim. Eu mal toquei na bola e fui selecionada” a atleta afirmou ainda que considera o critério de seleção preconceituoso completando que “muitas meninas que jogaram muito bem aqui não foram selecionadas por não serem bonitas”, já uma garota reprovada nos testes declarou decepcionada “eu joguei bem, me esforcei. Isso [o critério] é uma coisa que eu queria entender. Tem menina que está aqui, não sabe jogar e foi aprovada. Eu jogo futebol há sete anos”, disse inconformada”.  

sexta-feira, 25 de março de 2011

O futebol arte - Um recado a Paolo Rossi



Escrito por:
©Antônio de Oliveira, arquiteto e urbanista, maio de 2010.


Certa vez perguntei para meu sobrinho – naquela época com 12 anos – como foi o jogo de futebol do campeonato que estava disputando. Ele me respondeu com um sorrisinho: “Ah, perdemos de 5 x 1..., mas eu dei dois chapéus e um vão de perna.” Achei sua resposta fantástica. O que importa o placar se eu fiz a minha arte? O que importa se perdemos, se eu fui genial? O que importa a derrota, se já nos julgamos vencedores pelo que fizemos? Nós, brasileiros nascemos assim: apaixonados por futebol; e desde cedo já sabemos justificar nossas derrotas na maneira mais inocente num sorriso de uma criança. O que importa é fazer “arte”, dar espetáculos.

Não existe paixão maior que a de um torcedor pelo seu time de coração. Ouso dizer que esta união é verdadeira e leal: na saúde, na doença, na alegria, na tristeza e até que a morte vos separe. A herança de escolher para que time torcer – e isso é uma paixão para o resto da vida mesmo -, vem de nossos pais ou de nossos irmãos mais velhos. Sempre haverá esta influência, pois muito cedo somos inseguros em fazer outras escolhas, quanto mais para que time torcer. É claro que existem alguns que decidem não por influência, mas escolhem torcer pelo time do momento, ou seja, o time sensação da temporada. Com certeza, o momento do time do Santos-2010 fará engrossar o número de torcedores nas arquibancadas e pelo país a fora. Com seu futebol alegre, moleque tem atraído muitos pequenos torcedores já no berço.

Comigo, a influência futebolística foi de um dos meus irmãos, já que meu pai pouco gostava de futebol. Meu irmão, torcedor do palestra, colecionava revista “Placar” e sempre colocava no meu colo algum texto para eu ler – é claro que sempre do Palmeiras. Naqueles primórdios da década de setenta, eu só sabia de futebol pela Seleção do tri-campeonato; aquele time de Pelé, Tostão, Rivelino e Gerson. Dois anos depois da conquista do mundial comecei a torcer com paixão pelo Palmeiras. O time era a “Academia” comandada por Ademir da Guia, Leivinha, Luis Pereira e César, o maluco. O Palmeiras ganhou o segundo campeonato brasileiro em cima do Botafogo-RJ em 1972, depois foi bi-campeão no ano seguinte já contra o São Paulo. Até aqueles meus primeiros anos de futebol, só conhecia vitórias, conquistas e glórias. Colava meus pôsteres na parede, criava meus ídolos que, além desses do Palestra, havia Reinaldo do Atlético-MG. Até hoje não vi jogador como Reinaldo. Ele era um goleador nato, pois seu futebol tinha a ver com aquilo que mais apreciava: a arte.

Assim, como tudo na vida nem tudo são flores – mesmo na vida de um novo torcedor -, veio a primeira decepção ainda naqueles meus 20 anos. Era decepção sim, pois não imaginava que iríamos perder um titulo jogando o verdadeiro futebol brasileiro, com muita arte. Não estou falando do meu palestra, pois já entendia que não era fácil manter um time no auge por tantos anos e ganhando títulos, falo da Seleção de 82.
Em 1982, a Seleção Brasileira era comandada pelo “Mestre” Telê Santana, que vinha do meu Palestra. Telê tinha a pecha de ser um técnico exigente demais, detalhista, mas que gostava do futebol para frente, de atacantes. Naquela seleção havia um desconforto, a maioria dos torcedores não entendia porque o time de Telê não tinha ponta direita. E todos achavam que havia ali a teimosia do treinador turrão. E a seleção foi para copa da Espanha desacreditada, capenga e sem saber o que iria acontecer. Já nos primeiros jogos começamos a perceber a genialidade do time e de seu treinador. O meio de campo era um quadro mágico formado por Sócrates, Zico, Falcão e Cerezo. O time jogava por música e os adversários não conseguiam parar o ataque, que só fazia gols magníficos. Ah, o ponta direita? Não havia um fixo, todos caiam por aquele lado do campo, como se ali fosse o terreno fértil para brotarem os gols.

Tudo ia bem, já éramos consagrados como a melhor Seleção da Copa, até que veio um trem desgovernado e nos atropelou. Horas antes daquele fatídico jogo contra a Itália, lembro ter assistido na TV uma entrevista com o avô de Bruno Conti, ponta direita da Itália. Um velho sapateiro do interior da Itália; um homem otimista, alegre e orgulhoso do neto. Como um inoportuno vidente, disse que não tinha dúvidas que a Itália sairia vencedora daquele jogo, embora o mundo todo pensasse e torcia o contrário. Acho que os deuses do futebol já haviam lhe soprado nos ouvidos o que iria acontecer. A previsão ou inspiração daquele velhaco foi de um bruxo diante de sua bola de cristal; e uma desgraça iria cair sobre nossas cabeças naquela tarde que seria conhecida como a “Tragédia de Sarriá” – nome do estádio que mais tarde seria demolido pelo governo Espanhol.

Dou-me o direito de não comentar ou sequer lembrar-me dos gols do nosso algoz, prefiro então ficar com a imagem de Falcão ao fazer o gol de empate de 2 x 2. Ele gritava e de braços abertos corria em direção ao lado do campo junto dos outros jogadores. Parecia que havia sido cometido por uma alegria que já não cabia em seu corpo. Mais tarde, descobri que o compositor Francis Hime havia feito uma canção chamada “Falcão”, justamente para descrever aquela cena. Depois da derrota por 3 x 2, com três gols de Paolo Rossi, apaguei. Quando acordei, demorei até minha ficha cair e compreender que o futebol também trás amarguras e desapontamento. No dia seguinte, ainda cabisbaixo fui até o jornaleiro e comprei o “Jornal da Tarde”; a capa trazia estampada a fotografia do filho mais velho de Zico com os olhos cheios de lágrimas. Aqueles olhos marejados representavam o choramingo de toda uma nação. Dobrei o jornal sem lê-lo e guardei comigo até hoje.

No futebol arte não havia espaço para mediocridade, descompostura, deselegância, grossura; a bola tinha que ser bem tratada como pincel na mão de um artista, o campo a sua tela e o gol a sua rubrica. Na vida como na arte não interessa se iremos perder aqui ou ganhar ali, por um simples placar ou de goleada; mas sim, interessa muito sermos lembrados pelas jogadas de mestre que faremos, pelos “chapéus” e “pedaladas” à frente do adversário. Seremos mais lembrados por isso. Se vivesse aquela copa, meu sobrinho com certeza também iria achar Rossi um jogador repugnante, tosco, deselegante, de gols feios; e a Itália um time com futebolzinho de resultados, mais nada. Por outro lado, se alegraria com Zico e diria: é maior do mundo; Falcão, o mais elegante e genial de todos; Sócrates, o jogador que tem olhos no calcanhar direito; e Éder, o ponta que coloca as bolas com os pés como um jogador de basquete faz suas cestas na linha dos três metros. O futebol arte morreu naquela Copa, foi enterrado junto com o Estádio Sarriá. Telê viveu tempo suficiente para ter outras glórias e ser campeão mundial interclubes, mas também para a angústia de terminar a vida sem ser campeão mundial com aquela Seleção. Quanto a nós que presenciamos aquilo tudo, devemos reverências ao sagrado futebol daquela Escrete de Ouro que encantou o mundo. Passado esses anos, ainda carrego comigo este trauma: toda vez que algum outro time no mundo ousar jogar como aquela Seleção de 82, penso que haverá um Paolo Rossi para estragar com a festa. É inconteste, ele odiava o futebol arte; e eu para sempre vou odiar Paolo Rossi.

(*) dedicado ao Thiago, autor de dois chapéus e um vão-de-perna.


Fonte: http://anttoniocronica.blogspot.com/2010/05/o-futebol-arte-um-recado-paolo-rossi.html

Bom turma, depois de terem lido este texto, o que vocês pensam sobre o futebol arte? O que vale mais, o futebol arte ou vencer o jogo jogando "feio"?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Peladas

Por Armando Nogueira:

Esta pracinha sem aquela pelada virou uma chatice completa: agora, é uma babá que passa, empurrando, sem afeto, um bebê de carrinho, é um par de velhos que troca silêncios num banco sem encosto.

E, no entanto, ainda ontem, isso aqui fervia de menino, de sol, de bola, de sonho: "eu jogo na linha! eu sou o Lula!; no gol, eu não jogo, tô com o joelho ralado de ontem; vou ficar aqui atrás: entrou aqui, já sabe." Uma gritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar o selo da bola, bendito fruto de uma suada vaquinha.

Oito de cada lado e, para não confundir, um time fica como está; o outro jogo sem camisa.

Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula.

Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quiçá no meio-fio, pára de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho.

Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal, trata-se de uma bola profissional, uma número cinco, cheia de carimbos ilustres: "Copa Rio-Oficial", "FIFA - Especial." Uma bola assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos (gomos hexagonais!) jamais seria barrada em recepção do Itamarati.

No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando, acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha.

Racha é assim mesmo: tem bico, mas tem também sem-pulo de craque como aquele do Tona, que empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. Uma pintura.

Nova saída.

Entra na praça batendo palmas como quem enxota galinha no quintal. É um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo. Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu tempo nem de desfazer as traves feitas de camisas.

O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda, tira do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a sangrar.

Em cada gomo o coração de uma criança.


Do livro "Os melhores da crônica brasileira", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1977, pág. 29, extraímos o texto acima.